Quando soube que O Senhor dos Anéis: Duelo pela Terra Média seria uma adaptação do aclamado 7 Wonders: Duel, mas ambientada no universo de Tolkien, a curiosidade foi imediata. A promessa de unir a mecânica consagrada de Antoine Bauza e Bruno Cathala com a rica mitologia da Terra Média era, no mínimo, empolgante. E com a arte belíssima de Vincent Dutrait ilustrando o jogo, ficou claro que não se tratava apenas de uma adaptação superficial.
Uma nova roupagem para uma fórmula de sucesso
Duelo pela Terra Média é um jogo exclusivo para dois jogadores que mergulha os participantes em uma disputa intensa entre os Povos Livres e as forças de Sauron. O DNA de 7 Wonders: Duel está presente, mas com diversas alterações que aproximam a experiência do universo de O Senhor dos Anéis.

Enquanto no jogo original o objetivo era acumular pontos de vitória, aqui há três formas distintas de vencer:
- Controle territorial: dominar todas as sete regiões do mapa da Terra Média.
- A caça ao Anel: fazer com que Frodo alcance a Montanha da Perdição — ou capturá-lo com os Nazgûl.
- Alianças raciais: reunir o apoio de seis raças da Terra Média através das cartas verdes.
Essas condições trazem variedade e tensão constante ao jogo. A qualquer momento, um movimento inesperado pode encerrar a partida.
Como funciona o jogo?

A mecânica principal continua centrada no draft de cartas abertas, onde os jogadores retiram uma carta por turno da pirâmide, revelando novas opções ao oponente. As cartas se dividem em cores e funções:
- Cinzas: habilidades que fornecem recursos para jogar outras cartas;
- Azuis: movimentam Frodo ou os Nazgûl na trilha do Anel;
- Vermelhas: adicionam exércitos ao mapa;
- Verdes: representam alianças com raças da Terra Média;
- Amarelas: fornecem moedas.
Além disso, é possível construir Fortalezas, que substituem as Maravilhas do jogo original. Elas conferem efeitos especiais e presença permanente em regiões, o que se revela crucial para a vitória por controle de áreas.
Alterações temáticas bem-vindas (e algumas nem tanto)
A substituição da trilha militar abstrata por um mapa real da Terra Média foi uma escolha acertada. A disputa territorial agora ocorre de forma mais tangível, onde os jogadores colocam e removem unidades de cada região. A dinâmica das batalhas é direta e eficaz: as peças se eliminam mutuamente até que reste apenas um lado dominante.
Outro destaque é a trilha da caça ao Anel, um elemento que reforça a urgência narrativa da saga. Frodo e Sam avançam rumo à Montanha da Perdição, mas os Nazgûl estão em seu encalço — e a distância entre eles nunca pode aumentar. Isso garante partidas cada vez mais tensas à medida que a trilha se aproxima do final.
Entretanto, nem todas as mudanças foram bem recebidas. A condição de vitória pelas cartas verdes — que representam o apoio das raças da Terra Média — parece pouco integrada à temática. Apesar da ideia, a execução se limita à coleta de símbolos, o que transmite uma sensação de abstratividade desconectada do contexto épico.
Além disso, a ausência de títulos nas cartas e a repetição de artes contribuem para uma certa perda de imersão. A arte é linda, mas sem nomes ou narrativas vinculadas, as cartas perdem força temática. A decisão de omitir nomes provavelmente visa facilitar a localização internacional do jogo, mas o custo foi alto para os fãs mais apaixonados pelo lore de Tolkien.
Comparações com 7 Wonders: Duel
Para quem já conhece 7 Wonders: Duel com suas expansões Pantheon e Agora, Duelo pela Terra Média incorpora elementos de ambas, mas de forma mais enxuta. As Fortalezas funcionam como Maravilhas simplificadas e os efeitos são menos variados. O uso de moedas também foi alterado: agora, o ouro é usado diretamente para substituir recursos ausentes, eliminando a negociação com o oponente — o que faz sentido tematicamente, afinal, ninguém imagina Frodo vendendo coragem a Sauron.
Pontos fortes
Três condições de vitória distintas e tematicamente coerentes
Mapeamento territorial envolvente e intuitivo
A trilha da caça ao Anel é um toque narrativo inteligente
Arte belíssima e produção caprichada
Duelos tensos e decisões estratégicas a cada turno
Pontos fracos
Cartas verdes pouco conectadas com a narrativa
Ausência de nomes e excesso de ilustrações repetidas prejudicam a imersão
Economia simplificada em excesso
Pode ser mais agressivo do que o original, o que pode afastar jogadores casuais
O que Achamos?
O Senhor dos Anéis: Duelo pela Terra Média é uma adaptação sólida e respeitosa de um sistema consagrado. Ele consegue transformar a estrutura de 7 Wonders: Duel em uma experiência com sabor tolkieniano, sem parecer uma mera colagem de tema. Embora não seja perfeito, ele brilha em diversos aspectos — especialmente na tensão gerada pelas múltiplas formas de vitória e pelo ritmo estratégico das decisões.
Se você gosta de jogos de confronto direto e é fã da Terra Média, há muito o que apreciar aqui. Mas se busca algo mais temático e narrativo, pode sentir falta de profundidade nos detalhes. No fim das contas, trata-se de uma excelente reinterpretação para dois jogadores — rápida, bonita e desafiadora.