Se há uma família de impressoras que eu conheço de trás para a frente é a Ender-3. A V3, porém, é aquela em que a Creality finalmente “virou a mesa”: abandonou o velho eixo Z por fusos e trouxe um sistema CoreXZ, chassis fundido e um pacote “pronto a andar” muito mais moderno. Depois de brincar tanto com a Ender-3 V3 como com a V3 Plus, deixo abaixo a minha leitura pessoal — sem paninhos quentes.
O salto geracional que faz diferença
A grande mudança é o CoreXZ: X e Z trabalham em conjunto por correias, o que reduz massa em movimento e dá resposta mais rápida. Na prática, sente-se na aceleração, no ringing mais contido e na consistência de camadas verticais. Isto não é marketing vazio; a própria Creality posiciona a V3 com velocidade máx. anunciada de 600 mm/s e aceleração até 20 000 mm/s², e há testes independentes que confirmam a arquitetura (e explicam-na) como um “segredo” bem apanhado para um “bedslinger”.
O resto do hardware acompanha: estrutura em alumínio fundido (menos parafusos, mais rigidez), duas ventoinhas de arrefecimento da peça, auto-tensionamento das correias XZ e bico “Unicorn” tri-metal de troca rápida no hotend de 60 W que chega aos 300 °C. Em conjunto, isto não só acelera como simplifica a manutenção do dia-a-dia.
Montagem, software e qualidade de vida
A experiência de montagem é, honestamente, finalmente “plug-and-play” num Ender: vem em módulos grandes, calibra sozinho (nivelamento, Z-offset, teste de input-shaping) e o ecrã tátil de 4,3″ mostra tudo sem dramas. Por baixo, a Creality adoptou o Creality OS (base Klipper), com Wi-Fi e integração com Creality Print e Creality Cloud — inclusive gestão de várias máquinas numa mini “print farm”. Prefiro fatiar localmente e só usar a cloud para monitorização, mas é bom ter a opção.
Ender-3 V3 vs V3 Plus: Qual é Melhor?


Volume e músculo
- Ender-3 V3: 220 × 220 × 220 mm. É a “all-rounder” compacta — cabe em quase qualquer secretária, aquece a base rápido e, para quem imprime peças médias e utilitárias, é mais do que suficiente.
- Ender-3 V3 Plus: 300 × 300 × 330 mm. Aqui a Creality escalou o conceito: motores duplos no eixo Y, varões e escoras de suporte no pórtico e o mesmo CoreXZ mais “encorpado”, precisamente para aguentar peças grandes com estabilidade. O footprint continua comedido para o volume que oferece.
Velocidade e acabamento
Ambas prometem até 600 mm/s; na vida real, 200–300 mm/s com input shaping bem afinado já dão resultados muito bons para PLA/PLA-CF. A V3 Plus mantém o nível com peças grandes graças ao reforço do Y e das escoras, mas lembra-te que peças maiores exigem mais arrefecimento e tempo de base quente.
Materiais
Com nozzle a 300 °C e placa PEI flexível, as duas lidam bem com PLA, PETG, TPU (95A) e compostos tipo PLA-CF. Para ABS/ASA, recomendo envolvente/caixa para controlar temperatura e correntes de ar — é uma limitação típica das máquinas abertas, não um defeito específico da V3.
Como imprimem?
- Consistência de camada: o CoreXZ dá-lhe um look “limpo” nas paredes, com menos “banding” vertical. É uma das Ender que menos me fez mexer em excêntricos, correias e afins.
- Arrefecimento: as duas ventoinhas na cabeça melhoram arestas, pontes e detalhes em PLA rápido. Em modos mais agressivos, ajuda reduzir temperatura do hotend + ativar smart cooling no slicer.
- Extrusão: o direct drive com mola de reforço e heatbreak em titânio reage bem a retracções curtas e filamentos mais moles. A troca rápida de bico é mesmo rápida — dá gosto não ter de desmontar meia cabeça por uma biqueira nova.
Nem tudo é perfeito
- Velocidades de catálogo: sim, a máquina pode chegar aos 600 mm/s, mas manter qualidade nesses extremos exige perfis, arrefecimento e peças “amigas” — a maioria dos trabalhos ficará mais bonita a 200–300 mm/s. Alguns reviewers também notaram que, apesar do “wow” de rapidez, há pormenores de usabilidade (como filament loading) que por vezes ficam aquém do ideal.
- ABS/ASA sem caixa: dá, mas não é o habitat natural. Se isto é o teu foco, pensa numa enclausurada.
- V3 Plus e a logística: o volume maior é delicioso, mas pede mais espaço, energia térmica na mesa e um pouco mais de planeamento no arrefecimento para paredes longas. A Creality mitigou com duplo motor no Y e escoras, o que é um bom passo.
Para quem eu recomendo cada uma
- Ender-3 V3 (220x200x200 aprox.) — Para quem quer uma primeira máquina rápida que não pareça um kit, focada em utilitários, organizers, peças de precisão média e aprendizados rápidos em Klipper/Creality OS. É a Ender “sem dores” que eu gostaria de ter tido como primeira.
- Ender-3 V3 Plus (300×300×330) — Para makers que já sabem porque precisam de volume: cosplay, caixas, peças de automação, protótipos grandes ou lotes de peças em menos passagens. O reforço estrutural e o CoreXZ ampliado fazem sentido aqui.
Elas Valem a Pena?
A V3 é, para mim, a primeira Ender “moderna” de raiz: rápida, silenciosa q.b., com boas escolhas de engenharia e sem pedir liturgias de calibração. A V3 Plus pega nessa base e dá-te escala e robustez extra sem virar trambolho. Se vens de uma Ender antiga, vais sentir o salto logo no primeiro Benchy; se estás a chegar agora, apetece dizer: “finalmente uma Ender que não parece de 2018”.
- Escolhe a V3 se o teu espaço é curto e 220×220×250 mm chegam.
- Vai de V3 Plus se o volume manda na decisão — e prepara perfis e ambiente para prints grandes.
No fim do dia, são duas máquinas que devolvem tempo: menos afinação, mais imprimir. É isso que eu espero quando acendo uma impressora ao fim de semana.
