Eu jogo jogos de tabuleiro quase todos os dias com minha família de quatro pessoas, e o nosso campeão absoluto sempre foi Ticket to Ride. Já passamos facilmente das 500 partidas em diferentes versões — e ainda criamos regras próprias para deixar o jogo mais competitivo (ou cruel, dependendo do ponto de vista). Por exemplo, na versão Europa, jogamos sem as estações de trem e com a obrigação de manter todas as rotas iniciais. Resultado: ninguém escapa de ter seus planos arruinados.
Além do TTR, também jogamos bastante Azul, Carcassonne, 7 Wonders e Patchwork. Todos são ótimos, mas são, no fundo, jogos mais leves. Agora, eu estava à procura de algo que tivesse a mesma interação direta e aquela sensação de “atrapalhar” o outro, mas com um tempero novo.
Foi nessa busca que encontrei Hansa Teutonica.
Minhas Primeiras Impressões

De cara, confesso que a arte e o tema me desanimaram. Comparado com o colorido do Ticket to Ride, Hansa parece… bem, um manual contábil medieval. Mas, como dizem por aí, “não julgue o livro pela capa” — ou, no caso, o jogo pela ilustração.
O que me atraiu mesmo foi ouvir que Hansa tem o mesmo nível de interação (ou até mais) que o TTR, mas com menos aleatoriedade e praticamente nenhuma informação escondida. É tudo aberto, o que significa que a vitória depende mais de leitura de mesa e estratégia do que de puxar a carta certa na hora certa.
Complexidade e Acessibilidade
Aqui estava meu maior medo: dois jogadores da família não falam inglês, então precisava ser independente de idioma, e as regras não podiam ser um bicho de sete cabeças. Para minha surpresa, apesar da fama de “euro clássico”, Hansa não é tão complicado.
Sim, o manual exige mais atenção que um TTR da vida, e a primeira explicação vai demorar o dobro ou triplo do tempo. Mas, na prática, o jogo se baseia em um conjunto pequeno de ações e formas de melhorá-las.
A curva de aprendizado real está em como jogar bem, não em entender o que fazer. É um caso clássico de “fácil de aprender, difícil de dominar”.
Interação Foi O Ponto Forte
Se você gosta de bloquear rotas no TTR, vai se sentir em casa. Hansa Teutonica é ainda mais agressivo. Aqui, não basta avançar no seu próprio plano: você precisa atrapalhar os outros para vencer.
Cada movimento tem potencial de incomodar alguém, e as disputas por espaços no tabuleiro são inevitáveis. É um jogo onde a diplomacia silenciosa e a observação constante fazem diferença.
Fator Rejogabilidade

Outro ponto positivo: as partidas são rápidas para o nível de profundidade que oferecem. Com 4 jogadores, dá para jogar uma partida de aprendizado, encerrar e recomeçar no mesmo tempo que jogaríamos um TTR.
Além disso, existem expansões e mapas alternativos que aumentam a rejogabilidade — um atrativo para quem gosta de investir em um jogo e explorá-lo a fundo.
Para Quem É (e Para Quem Não É)
- Se você gosta de interação direta, de bloquear o caminho alheio e de um jogo que recompensa o planejamento, Hansa é uma ótima pedida.
- Se no seu grupo todo mundo já gosta do “modo cruel” no TTR, essa transição vai ser natural e divertida.
- Agora, se alguém no grupo se frustra fácil quando tem a estratégia sabotada, talvez Hansa cause mais brigas do que risadas.
Minha Conclusão
No fim das contas, Hansa Teutonica é como o TTR que passou na faculdade de estratégia: menos sorte, mais controle e muita interação direta. É um passo acima, sim, mas não tão grande que seja intransponível.
Eu ainda acho que seu visual não vai ganhar prêmios, mas quando a partida esquenta, ninguém está olhando para a arte — todo mundo está focado em garantir que seu adversário não consiga fazer o que quer. E isso, para mim, é diversão garantida.