Guerra do Anel – Segunda Edição (War of the Ring) é uma adaptação imponente do universo de Tolkien para os tabuleiros publicada no Brasil pela Devir. Ambientado no final da Terceira Era da Terra Média, o jogo coloca de 2 a 4 jogadores em lados assimétricos: de um lado, os Povos Livres e a Sociedade do Anel tentando destruir o Um Anel em Mordor; do outro, as forças sombrias de Sauron que avançam militarmente sobre reinos em declínio, ou tentam corromper o portador do Anel até a derrota total.
Desde o primeiro momento, War of the Ring impressiona pelo tamanho do tabuleiro (em duas partes), pela riqueza de miniaturas, pela arte evocativa e, claro, pela profundidade estratégica. Trata-se de um verdadeiro épico, com narrativas emergentes que recriam momentos icônicos da trilogia — ou imaginam cenários alternativos que só os jogos de tabuleiro permitem explorar.
Mecânicas: Um Campo de Batalha Estratégico

No seu cerne, War of the Ring é um jogo de controle de área, impulsionado por dados de ação e cartas de evento. Os jogadores movimentam seus exércitos por toda a Terra Média em busca de locais estratégicos que garantem pontos de vitória. A tensão política é real: enquanto as sombras já marcham, os Povos Livres precisam mobilizar suas nações lentamente na Trilha Política antes de entrar efetivamente em combate.
O combate, baseado em rolagem de dados, é acessível e lembra jogos clássicos como Risk, mas se destaca pelo uso de cartas táticas e pela presença de fortificações e cidades que adicionam profundidade às batalhas.
Apesar de envolver sorte nos dados, as decisões táticas são significativas. Saber quando usar um dado de ação, onde posicionar líderes, ou como explorar as cartas de evento pode ser a diferença entre a salvação e a queda da Terra Média.
Asymmetria: Dois Jogos em Um
O grande trunfo de War of the Ring é sua assimetria. Enquanto o jogador das sombras possui uma abordagem direta — avançar e dominar — o jogador dos Povos Livres vive sob constante pressão. Além de preparar suas nações, precisa conduzir secretamente a missão da Sociedade do Anel pelo mapa, ocultando o progresso dos portadores do Um Anel e tentando resistir à corrupção.
Esse minijogo de movimento oculto é uma tensão constante. O avanço pela trilha da Sociedade e os riscos de corrupção transformam cada escolha em um dilema. Os caçadores de Sauron espreitam, e a qualquer momento a posição da comitiva pode ser revelada e punida.
Componentes e Arte


A arte de John Howe eleva a experiência. Ilustrações que capturam momentos-chave da saga e retratos vívidos dos personagens povoam cartas e manual. A produção é generosa: miniaturas plásticas dos exércitos, líderes e bestas lendárias ocupam a mesa com imponência.
Ainda assim, nem tudo é perfeito. A semelhança entre algumas miniaturas torna o setup lento e propenso a erros, principalmente para novatos mas isso se resolve depois de pintá-las, que é o meu caso.

Curva de Aprendizado e Temática
Embora as regras não sejam excessivamente complexas isoladamente, sua combinação resulta em uma experiência densa, com curva de aprendizado íngreme. As primeiras partidas exigem constantes consultas ao manual, o que pode dificultar a imersão temática nas primeiras sessões.
Contudo, à medida que os jogadores se familiarizam com as mecânicas, o jogo floresce. Os eventos narrativos, as cartas com textos evocativos e o próprio andamento do jogo permitem momentos memoráveis, como a defesa desesperada de Minas Tirith ou um avanço inesperado por Rohan.
Pontos Fortes
- Fidelidade temática: o jogo consegue capturar o espírito de Tolkien sem se prender ao roteiro exato.
- Narrativas emergentes: cada partida é uma história própria, com heróis em destinos improváveis e decisões que ecoam até o final.
- Mecânicas assimétricas bem integradas: diferentes formas de jogar exigem abordagens estratégicas distintas.
Pontos Fracos
- Setup demorado e propensão a confundir miniaturas.
- Curva de aprendizado acentuada, que pode afastar novatos.
- Possível desbalanceamento entre os lados dependendo da experiência dos jogadores ou má gestão de cartas no início.
Considerações Finais
War of the Ring (2ª edição) é uma joia rara no universo dos jogos de tabuleiro. Ele exige tempo, dedicação e paciência, mas recompensa os jogadores com uma das experiências mais temáticas e estratégicas disponíveis. Ele não é para todos — sua densidade e duração afastam os casuais — mas para os fãs de Senhor dos Anéis e entusiastas de grandes campanhas assimétricas, é praticamente obrigatório.
Mesmo com seus defeitos (como momentos de sorte decisivos ou decisões táticas por vezes restritas), o jogo brilha na sua capacidade de contar novas histórias dentro de um universo tão amado. Se o seu objetivo é viver uma saga própria pela Terra Média — e não apenas reviver os filmes — War of the Ring entrega isso com grandiosidade.
Um épico de mesa que transforma cada partida em uma nova jornada pela Terra Média — tensa, estratégica e memorável.